Mr. Rebel Dream

Nasci na cidade de Sandgem, um pequeno vilarejo sem muita perspectiva. Sou o caçula da família e neto do Professor Rowan, por isso minha família relutou um pouco em deixar com que eu trilhasse meu próprio caminho, mas depois de muita insistência finalmente tive a oportunidade de mostrar meu potencial.

O sol estava a pino e eu soava muito. Vovô havia esquecido do compromisso que fizera comigo. Retirei meu sobretudo preto, revelando minha regata branca. Forcei a porta do laboratório numa última tentativa de abri-la e frustrei-me. Ela era feita de titânio e era tão maciça que nem mesmo uma Piloswine consiguiria quebrar. Alguns instantes a mais e um senhor atrapalhado começou a se desculpar.

- Othon, eu me perdi completamente no tempo.

- Eu percebi, vovô. - Brinquei para evitar seu constrangimento.

- Vamos entrar logo. - Ele passou um cartão na máquina de leitura e a porta se abriu automaticamente.

Dentro do laboratório me senti muito mais aliviado. Além de ter me livrado do sol, vovô ligara o ar-condicionado. Rapidamente ele chegou com uma maleta, que quando aberta revelou cinco pokebolas que ali repousavam.

- Eu selecionei esses cinco pra você poder escolher o que melhor te satisfaça. - Disse liberando todos os Pokémon sobre um largo balcão.


Todos pareciam muito dóceis e amigáveis, afinal eram Pokémon de laboratório. Nasceram e foram criados em companhia dos seres humanos. Todos pareciam muito ansiosos para serem escolhidos e a eleição era realmente difícil, mas confesso que senti uma simpatia natural emanando de Piplup, e por isso a minha escolha foi certeira.

- Tem certeza? - Vô indagava - Vai ser mesmo o Piplup?

- Sim vovô. - Respondi deixando-o aparentemente desapontado. - Eu gostei muito dele.

Assim que ouviu seu nome sendo pronunciado várias vezes, o Pokémon vibrou de alegria. Me aproximei dele, mas o ignorei. Me dirigi aos outros, consolando-os e disse que eles seriam escolhidos por treinadores incríveis. Não sei se isso os reconfortou, mas pelo menos não ia ficar me sentindo culpado.

Enquanto isso, meu avô preparava seus 'presentes'. Além do pokedéx e da pokebola com Piplup, ele me entregou mais cinco pra que eu pudesse capturar. Uma vara de pescar retrátil, que apesar de velha ainda teria algum uso, e uma bela mochila pra guardar tudo isso.

- Finalmente chegou sua vez, não é?

- Pois é senhor Rowan. - Ele odiava quando eu o chamava pelo nome. - Tinha que ser. Mais cedo ou mais tarde.

Nos abraçamos e rapidamente eu parti. Nenhum de nós dois gostava de prolongar despedidas, era mais doloroso e dava mais brechas para desistência.


Assim que saí do laboratório fui para o norte. Meu objetivo era chegar à cidade de Jubilife, mas começou a escurecer, então resolvi acampar e sem dificuldades montei minha barraca. Mesmo que durante o dia o sol estivesse terrível, a noite o frio era muito rígido, então catei alguns galhos secos e fiz uma fogueira. Eu não tinha muito o que comer, apenas um saco de Marshmallows. Encontrei dois galhos mais finos e passei-os rapidamente pelo fogo para esterilizar. Coloquei um Marshmallow em cada um e retirei Piplup da pokebola. Seria a primeira vez que eu conversaria com ele.

- Oi. - Comecei sem graça. - Isso é pra você - Disse entregando um dos galhos.

Me sentei no meu saco de dormir, que ainda estava enrolado e convidei Piplup a se juntar a mim.

- Eu queria te dizer. - Continuei. - Que se eu te escolhi, é porque gostei muito de você, e quero muito que sejamos amigos.

- Pi-pi-plup! - Ele reagiu positivamente.

O sol já não podia ser visto e foi só nesse momento que eu parei pra observar a floresta. Não se dava pra ver muito longe apenas com a luz da fogueira, mas ela era bela. Suas árvores altas e robustas criavam um ar de nobreza e o silêncio raramente era interrompido, a não ser quando Piplup resmungava pedindo mais um Marshmallow.

Ficamos algum tempo conversando, mas logo me cansei, então fomos dormir. Quando perguntei a Piplup se ele queria dormir comigo, do lado de fora da pokebola, ele consentiu. Algum tempo depois de deitar já me encontrava adormecido e assim permaneci por muito tempo.


A noite foi longa, mas dormi feito uma pedra. Quando acordei, Piplup já estava de pé com cara de desânimo. Assim que abri a barraca ele saiu correndo. Acredito que estava se sentindo entediado lá dentro, ou talvez sufocado. No entanto, ao sair também tomei consciência de que ele estava com fome, assim como eu. Desarmei a barraca e à guardei na mochila e então eu e Piplup fomos procurar alguma comida. Fomos floresta adentro e vimos uma grande quantidade de Pokémon, mas por estarem mais acostumados a selva do que eu sabiam se esconder e eu não tinha oportunidade de analisá-los pelo Pokedéx. Encontramos uma macieira com apenas duas maçãs, as outras já se encontravam no chão apodrecendo. Assim que as comemos, fomos a procura de algo mais e nos deparamos com uma amoreira carregada. Nos empanturramos até não aguentarmos mais e então partimos. Coloquei Piplup em cima de minha cabeça, já que ele não parava de reclamar. Sua barriga estava tão cheia que mal conseguia andar. No caminho para sair da floresta ouvimos uma agitação então fomos em sua direção. No topo de uma árvore um Pokémon atacava outro menor brutalmente, então resolvi intervir.

Pokedéx:

- Piplup nós precisamos agir. - Disse encorajando-o - use o Ice Beam na árvore. - Piplup abre o bico e uma esfera de energia ciano aparece na frente dele. Dessa esfera saem feixes brilhantes que ao atingirem a árvore congelam-na. - Agora use o Peck. - O bico do Pokémon brilha em tons de dourado. Ele corre até a árvore e à atinge várias vezes, derrubando-a e forçando Aipom a vir para o chão com o Oddish.

- Piplup, prepare-se. - Digo ao ver o Pokémon adversária se ajeitando para lutar. 


- Piplup, ataque com o Pound. - O braço direito do pinguim se torna completamente branco e brilhante, que vai de encontro a seu inimigo e lhe desfere um tapa, que aparentemente o deixou furioso. 

A Aipom usa Scratch, correndo até Piplup, que tenta fugir sem sucesso, e lhe aranha ferozmente.

- Use o Growl! - O pequenino solta um grito que distorce o ar de maneira significativa, deixando o Pokémon Cauda Longa intimidado.

Ele revida usando o Astonish, no qual faz uma expressão facial amedrontadora, que é projetada em forma de luz e atinge meu Pokémon, lançando-o contra o chão.

- Vamos lá Piplup, Bubble! - De seu bico sai um jato de bolhas transparentes que perseguem o Aipom, e ao atingi-lo, além do dano, reduz sua velocidade.

Desesperado, o Pokémon macaco usa o Double Hit: sua cauda brilha em roxo e ela acerta múltiplos ataques em Pip.

- Use o Bide! - O corpo de Piplup se torna envolto por uma camada fina de energia branca que rapidamente é absorvida por ele e lançada no adversário em forma de um feixe de energia púrpura, debilitando-o.


Após vencermos a batalha, Piplup se encontrava exausto, então retornei-o à pokébola. Peguei tanto Aipom quanto Oddish no colo e os levei para o campo aberto. Ambos estavam muito machucados. Borrifei um spray medicinal em seus ferimentos e os cobri com curativos. A Aipom acordou rapidamente, e assim que se deu conta de que estava em minha companhia fugiu. Depois de um tempo, liberei Piplup, que já se sentia melhor. Oddish acordou e começou a dialogar com Piplup, aparentemente ignorando minha presença. Depois de um tempo, levei Oddish a borda da floresta, pra que ele pudesse retomar a sua vida. 

- O-dish! - Grunhiu em tom de despedida.

Após essa primeira aventura, eu e Piplup partimos em direção à Jubilife.

Depois de todos os imprevistos que haviam acontecido mais cedo, fui o mais rápido que pude para a cidade de Jubilife. O motivo de tanta ansiedade para chegar na cidade é que hoje é o Dia da Caça um evento anual que é patrocinado pela Escola de Treinadores Pokémon da cidade. Eu estudei nela quando mais jovem, e sempre ajudei na preparação do evento, mas dessa vez seria a minha vez de participar. Nele, os participantes recebem pistas para encontrar Pokémon e capturá-los. O mais legal é que esses Pokémon vem de diversas regiões, então você pode acabar sendo um dos únicos habitantes de Sinnoh a ter um Pokémon exclusivo de Kanto, ou até mesmo de Kalos.

No momento em que cheguei na Cidade deixei Piplup no centro Pokémon para que fosse cuidado e então me dirigi à Escola. Só de ver sua fachada eu já sentia a nostalgia invadir meu peito. Mesmo que esse tenha sido um dos lugares que eu mais sofri, foi nele que também fiz meus melhores amigos. 

- Othon! - Uma voz familiar me chamava. - Aqui. - Assim que me virei tive uma ótima surpresa. 

- Alice! - Disse indo em sua direção e abraçando-a. - Há quanto tempo! - Alice foi uma das melhores pessoas que já conheci, e coincidentemente na escola.

- Pois é. - Respondeu se soltando. - Você está aqui pra Caça?

- Tô sim, e você?

- Na verdade eu vim pelo Contest, mas vou aproveitar a oportunidade.

- Eu tinha me esquecido dele completamente. - Falei rindo. - Quando ele vai acontecer?

- Já aconteceu. - Disse mostrando sua caixa de fitas. - Eu venci.

- Uou. - Surpreendi-me ao ver que ela já possuía três fitas. - Você já tá quase pronta pro Grande Festival.

- Quem me dera. - Riu. - Ainda preciso treinar muito.

- Sempre modesta, Al. - Brinquei. - Vamos continuar a conversa lá dentro?

- Claro.

Ambos entramos e fizemos nossa inscrição. Fomos muito bem recebidos como ex-alunos. Assim que terminamos eles nos deram uma folha com as instruções iniciais. Assim que as li, convidei Alice a me acompanhar ao Centro Pokémon para pegar Piplup.

Instruções:

Cheguei na Praça no último minuto, quase desqualificando a mim e a Alice, mas por sorte conseguimos. Os organizadores nos colocaram em filas e nos entregaram um envelope. 

- Espero que todos tenham lido as instruções, já que elas podem te manter ou te tirar da Caça. - Disse a coordenadora geral. - No entanto, tenho que ressaltar uma que não consta na lista: caso dois competidores encontrem um Ring ao mesmo tempo, antes de poderem tentar capturar o Pokémon eles terão que batalhar entre si.

Esse comunicado causou alvoroço geral.

- Nós decidimos implementar essa regra, por recorrentes reclamações que recebemos nos outros anos. - Explicou. - Quem não estiver satisfeito com ela pode se retirar do evento.

O silencio se instalou.

- Bom, se todos estiverem de acordo, podem abrir seus envelopes.

Todos começaram a abrir seus envelopes freneticamente e lê-los como se fosse a coisa mais importante de suas vidas. Lá havia uma lista com várias charadas, todas indecifráveis pra mim, exceto uma sem graça que vovô contava sempre e que lhe fazia gargalhar: Qual é o santo do banheiro? O São Bonete. Tentei ligar os pontos pra pensar pra onde essa pista me levaria e quando dei por mim eu era o único que ainda estava na Praça, então sai correndo.

Fui ao primeiro lugar que me veio a cabeça - A fábrica de sabão de Jubilife. Era um lugar muito lógico de se procurar, já que eles eram os maiores patrocinadores do evento. Contudo, para o meu desagrado, os portões estavam trancados com uma placa que tinha um enunciado um tanto sugestivo. 


Assim que li a mensagem até o final eu a virei de costas e encontrei um mapa da cidade. Entretanto, não havia marcação nenhuma nele, apenas uma frase embaixo: "O que os olhos não vêem o coração não sente". Eu já sabia pra onde ir, então fui o mais rápido que eu pude. A loja de óculos, porém, também estava fechada, e pior, sem nada que me desse outra pista. Comecei a pensar e percebi que tinha ido ao lugar errado e então parti novamente.  

- Posso te ajudar novamente, senhor? - Perguntava a enfermeira Joy.

- Sim, eu quero ir pro Ring que você está escondendo. - Respondi assustando-a.

- Você está enganado. - Resistia. - Mas eu posso te ajudar. Eu tenho a próxima charada, e não o Ring comigo.

- E ela seria?

- O que atravessa o rio, mas não se molha? - Assim que ela o disse fiquei pensando.

- Obrigado! - Agradeci enquanto corria dali.

Cheguei no lago da cidade e vi o Ring - um estádio, no qual um Pokémon esperava pra ser capturado. Era a ponte e eu podia ver um Pokémon lá. Comecei a me aproximar e vi que outro treinador vinha na mesma direção. Comecei a correr pra chegar antes, mas foi inevitável. 

- Você sabe o que tem que ser feito, não é? - Indagou.

- Sei, só queria evitar.

- Se você deixar esse Ring pra mim vai estar evitando.

- Pois eu mudei de ideia. Não quero evitar nada. - Falei pegando a pokebola. - Vai Piplup!

- Saia Numel.

Pokedéx:

- Piplup, ataque com o Bubble. - De seu bico sai um jato de bolhas transparentes que perseguem o Numel, e ao atingi-lo, além de lhe causar dano, reduz sua velocidade.

- Numel, use o Ember! - Da cavidade das costas do Pokémon sai uma grande chama vermelho-alaranjada que atinge Piplup e o lança no lago.

- Sai daí Piplup. Use o Peck! - O bico do pinguim cresce e se torna envolto por uma luz dourada. Ele corre na direção de seu oponente e o bica repetidamente na cabeça, deixando-o um pouco confuso.

- Vamos lá, Focus Energy. - O corpo do dromedário começa a brilhar em vermelho e ele concentra suas energias para ter um próximo golpe de maior intensidade.

- Fury Swipes, Piplup. - O pequenino azul corre e pula sobre o Numel e o bica e arranha com os pés ao mesmo tempo, freneticamente.

- Numel, resista. Lava Plume! - O Pokémon de fogo causa uma explosão no chão, fazendo com que um misto de fogo e barro atingissem Piplup. Apesar de ser um ataque poderoso, Piplup contava com resistência à ele por ser do tipo Água, contudo meu oponente parecia não notar isso.

- Piplup, Pound. - Um dos braços de Piplup fica branco e brilhante. Ele se dirige contra o camelo e lhe desfere alguns tapas.

- Numel, Earth Power. - Quase debilitado, e usando de muitos esforços, o corpo de Numel fica envolvido por uma luz dourada, logo, ele bate um de seus pés no chão uma rachadura sai dele, até Piplup que fica preso por um momento e recebendo dano, mas depois consegue se libertar.

- Acaba com ele! Use o Bubble Beam. - Assim como no Bubble, um jato de bolhas sai do bico do Pokémon pinguim, mas dessa vez com muito mais intensidade. O oponente tenta resistir, mas por ser duplamente fraco contra o tipo Água, não tem escapatória e é debilitado.

- Você lutou bem Numel, volte. - O treinador decepcionado se virou de costas e começou a andar. - Boa captura, garoto.

- Obrigado. - Despedi-me.

Fui o mais rápido que pude em direção ao Pokémon, com objetivo de evitar que outro treinador pudesse chegar. O Pokémon que estava ali era interessantemente incomum. Provavelmente não era nativo de Sinnoh e havia sido trazido de outro continente. Posicionei meu Pokedéx e descobri mais sobre ele.

Pokedéx:

- Piplup, você está pronto pra mais uma batalha?

- Pip-piplup!


- Piplup, use o Growl. - O usuário rosna de uma maneira cativante, fazendo com que o oponente fique menos cauteloso, diminuindo seu poder de ataque. 

O Treecko revida com um Quick ataque, no qual se atira contra Piplup numa velocidade tão surpreendente que o faz quase invisível, deixando apenas um rastro branco por onde passa.

- Ataque com Brine. - Meu Pokémon salta e lança um poderoso jato de água salgada contra Treecko, que além de receber o dano, tem a visão prejudicada, pelo sal nos olhos.

Ele acaba usando o Absorb, um ataque de drenagem de nutrientes, que retira um pouco da energia do alvo e passa para ele.

- Use o Peck! - O bico do pinguim cresce e se torna envolto por uma luz dourada. Ele corre na direção de seu oponente e o bica repetidamente na cabeça.

Treecko tenta acertar Piplup com o Pursuit, e mesmo que ele tenha corrido bastante foi atingido pela perseguição.

- Se esconda, com o Mist. - A visão do Pokémon Lagartixa já previamente prejudicada, se tornaria ainda mais difícil, já que o Pokémon tipo Água lançou de sua boca uma densa névoa que o encobria, concedendo-se algum tempo para descansar.

O Pokémon tipo planta tentou usar o Mega Drain, uma versão 'aprimorada' do Absorb, mas sem sucesso, já que não conseguia direcionar.

- Vamos lá, Piplup ataque com o Bubble Beam. - Um intenso raio de bolhas originados no bico do Pokémon atinge o oponente, debilitando-o. - Pokébola, vai! - A esfera atingiu o oponente e o retraiu, piscando três vezes e se estabilizando. Eu havia capturado meu primeiro Pokémon.

Me dirigi ao centro da cidade onde me reencontrei com Alice. Fizemos alguns planos para o futuro e passamos a tarde toda conversando.

Continua...