Adventure Time [Johto]

        A brisa suave percorria a clareira da bela floresta, os raios suaves do sol atingiam o gramado de tom verde deixando-o com um ar ainda mais belo, vez ou outra uma nuvem encobria a estrela diurna causando uma sombra relaxante o suficiente para embalar um delicioso sono. Flores de cores diversas destacavam-se em um canto ou outro, tornando ali o paraíso para quem quer que desejasse apenas relaxar.
        Pokémon dos mais diversos tipos, tamanhos e cores surgiam ali, mas logo que percebiam a presença humana afastavam-se, voltando para seus respectivos lares, ou apenas escondendo-se. A movimentação, porém, não parecia incomodar quem quer que ali estivesse a ter seu descanso.
        Entre os arbustos algo se destacava. Um par de olhos de brilho inigualável parecia observar o movimento que a respiração da humana causava no gramado verde. O ser mantinha-se em silencio, apenas observando o que poderia ser um possível alvo de ataque, não se tratava da garota ali deitada, mas da pequena raposa que adormecia sobre o estomago da outra.
        Lia acordou um tanto atordoada. Sonhava com o fatídico dia em que encontrara a casa de sua família em chamas, porém desta vez não havia sequer sombras do homem que se dedicou a desgraçar todo o restante de seus dias. Podia sentir o calor das chamas próximas ao seu corpo, o desespero invadindo seu coração e a deixando tão angustiada quanto poderia estar. Estava revivendo os sentimentos daquele dia.
        Os olhos mantiveram-se fechados por alguns segundos, o peito subia e descia lentamente enquanto a morena se permitia aproveitar a brisa suave daquela clareira.
        Havia chegado na região de Johto há pouco mais de dois dias, fizera seu caminho para a cidade de New Bark onde conhecera o Profº Elm, aquele que lhe dera a pokédex referente a região. Itália negara-se a escolher entre o trio de pokémon que era oferecidos aos novos treinadores, ela já possuía sua pequena zorua, e estava satisfeita com isto.
        Ela bocejou lentamente, arqueou o corpo e desta forma despertara sua monstrinha, que esticara-se sobre o abdômen de sua dona. ― Zorua, zorua… ― A jovem se permitiu rir, a mão fora em direção ao pelo da pequena raposa, onde iniciara um carinho lento e gostoso. ― Acertamos em cheio na escolha do lugar para descansar, Lily… ― O timbre da voz encontrava-se levemente rouca, tudo devido ao sono que insistia em percorrer as veias de seu corpo curvilíneo.
        Itália sentou-se e no mesmo instante sua monstrinha saltou de seu colo. Ambas bocejaram longamente, a morena piscou algumas vezes para que seus olhos voltassem a se acostumar com a claridade do ambiente. A moça recuou assustada no mesmo instante em que avistara os cristais em meio as folhas. Mais atrapalhada do que o comum ela bateu a mão nos bolsos de seu vestido avermelhado, quando enfim encontrou o que buscava o puxou, abriu o mesmo e apontou para o ponto onde avistara o objeto estranho.
       

Pokedex escreveu:Sableye, o pokémon Escuridão
Os Sableye levam vidas calmas nas profundezas das cavernas. Eles são temidos porque pensa-se que estes pokémon roubam os espíritos das pessoas quando os seus olhos brilham sinistramente na escuridão. Alimentam-se de joias que desenterram com as suas garras afiadas. A sua dieta transformou os seus olhos em pedras preciosas.

        Lia arqueou as sobrancelhas no mesmo instante, não esperava encontrar um pokémon como aquele no lugar onde estava. ― Pronta para nossa primeira batalha, Lily? ― Enquanto se pronunciava ela se levantou, passou as mãos pelo tecido de sua roupa livrando-se da poeira e dos eventuais pedaços de grama que poderiam ter se prendido ali. A raposinha logo ficou de pé, em posição de ataque. Sableye pareceu perceber o que estava prestes a acontecer, e isto o agradava. O mesmo deixou o arbusto e avançou lentamente.
        ― Zorua, comece usando o Scratch ― A pequena raposa negra assentiu e avançou em direção ao oponente. As garras adquiriram uma coloração prateada, ela avançou em direção ao outro, saltou e no ultimo segundo quando estava prestes a desferir o ataque o Sableye desviou. Itália suspirou aliviada quando sua monstrinha pousou firme no chão. ― Rápido, use o Fury Swipes!
        As garras voltaram a ter o brilho, a pokémon avançou em direção ao outro, estando próxima a ele, ela começou a desferir os golpes. O primeiro atingiu em cheio o rosto do pequeno ser roxo, o segundo o fez desequilibrar e recuar dois passos, o terceiro fora desviado, e quando zorua menos esperou fora atingido por um scratch.
        O subconsciente da jovem Hoods começou a trabalhar de forma agitada, tentava a todo custo montar um combo de ataques bom o suficiente para ferir seriamente o oponente a ponto da pokébola conseguir prende-lo.
        Ela puxou uma forte respiração, um gemido chamou sua atenção. Ao abrir os olhos se deparou com sua monstrinha caída alguns centímetros a frente de uma arvore. Sableye havia usado shadow claw, um movimento que projetava uma garra negra de sua pata e atingia seu oponente, o ferindo. Lia encontrava-se completamente assustada, seu coração parecia querer explodir tamanho medo que o atingia.
        A garota correu em direção a sua pequena pokémon, caiu de joelhos ao lado da mesma, os braços a envolveram e uma das mãos deslizou sob o pelo dele. ― Lily… Você esta bem? ― A pequenina abriu os olhos lentamente, a cabeça moveu-se de forma lenta. Por mais que ela afirmasse que estava tudo bem, algo dizia a Hoods que não estava. Zorua saltou dos braços de sua dona, prostou-se diante do ser de tom roxo, encarando-o séria.
        ― Ok! Lily, comece usando o Scary Face, em seguida use o Fury Swipes. ― A raposa negra assentiu, preparou-se e deu execução ao plano. O primeiro movimento fizera com que a imagem de um rosto assustador surgisse diante do pokémon, este possuía a função de amedrontar suficientemente o oponente para que não pudesse atacar ou se defender. Logo em seguida Lily moveu-se, corria em direção ao outro determinado a machuca-lo e ao fim, traze-lo para seu time.
        A pokémon saltou, enquanto estava no ar suas garras foram projetadas, brilhavam de forma bela, deixando Lia encantada. No outro instante ela movimentou as patas, como se estivesse a lançar cortes contra o Sableye, que fora atingido em cheio. A garota, por sua vez, sabia que precisaria batalhar um pouco mais para poder derrotar o pokémon, caso o desejasse realmente.
        ― Agora use o Agility e duas sequencias do Scratch! ― A raposa pousou levantando poeira, mas não deixou se abater por isto. Deu inicio a mais uma série de ataques, o uso do primeiro movimento dera agilidade a pokémon, que corria com rapidez em direção ao outros. As garras brilhavam tanto quanto da ultima vez, seriam duas séries de dois cada uma, aquilo talvez fosse o necessário para desmaiar o oponente, talvez não.
        Zorua parou diante do outro e começou a desferir ataques com as garras, causando cortes seguidos. Porém quando estava para executar o ultimo, fora atingida por um shadow ball que o lançara na direção dos pés de sua treinadora.
        A raposa não perdeu seu tempo deixando-se sentir dor. Precisava vencer, e tal sentimento superava todos os outros. Tão pouco esperou receber ordens de sua treinadora, por si só resolveu o que faria, e que daria o melhor de si.
        Lily encarou o Sableye por alguns longos segundos, os olhos fixos no outro na tentativa de amedronta-lo. Itália deduziu que sua monstrinha estaria usando o leer e que provavelmente estaria preparando-se para uma sequencia de ataques. E foi o que ocorreu.
         A pequena raposa avançou com rapidez contra o oponente, usando do agility para adquirir mais velocidade, assim como fizera da ultima vez. Antes que pudesse ser atingido, o Sableye utilizou o detect que o auxiliava fazendo com que sua percepção sobre o próximo ataque do oponente o ajudasse a  evita-lo.
         Zorua que estava prestes a usar o scratch mudou os planos. Tomou impulso em meio a corrida e saltou, as garras adquiriram o brilho tão constante naquela batalha. Lia perguntara-se se em algum momento o tom prateado se tornaria fixo nas garras de sua monstrinha, de tanto que ela fazia uso de tais movimentos.
         Lily desferiu uma sequencia dupla do movimento fury swipes, que atingiram em cheio o Sableye e como consequência o fez desequilibrar-se, e ao fim cair ferido.
         Itália correu em direção a sua pequena raposa, tomou-a nos e girou com ela. A felicidade a tomava imensamente, fazendo com que seus lábios se curvassem em um sorriso imenso. Após alguns segundos mantendo-se da mesma forma, ela soltou a pokémon.
         Haviam feito um bom treino, a morena aprendera a dar ordens a sua pequena zorua, mas também compreendera que estratégias deveriam ser formadas antes de entrar em uma batalha, assim como combos deveriam ser montados mais tarde.

OBS: O treino é narrado do ponto de vista da pokémon Zorua.


        Ela esta quieta, não tem falado comigo desde o ultimo treino, será que fiz algo de errado e a decepcionei? Mas ela parecia tão feliz quando eu finalmente consegui cansar aquele sableye, ela até me girou no ar, ria alegre ao me olhar. Porém, desde que deixamos a clareira tenho visto ela um tanto triste, talvez seja saudades da sra. Hoods, ou então de seu irmão Henry.
        Itália é uma ótima treinadora. Em nossas batalhas ela sempre tem tentando focar nos meus movimentos e meu bem estar, além de tentar criar combos fortes o suficiente para nos fazer sair cada vez melhor. Mas sei que seu coração esta vazio, que lhe falta algo. Não posso culpa-la, perder a família da forma como ela perdeu, e viver presa a um homem horrível não deve ter sido fácil, tão pouco as feridas que existem se curariam tão rapidamente.
        De olhos fechados roço a ponta de meu nariz em sua bochecha, os lábios dela se curvam num sorriso que faz com que meus olhos brilhem. Me alegra ver que ainda sou capaz de fazer algo bom para a garotinha que vi crescer.
        ― O que acha de treinarmos um pouco, Lily? ― Ela parece um tanto animada com a ideia de fortalecer não somente a mim, mas sim a nós. Movo rapidamente a cabeça de forma afirmativa, flexiono minhas patas e salto diretamente para o chão, pousando alguns centímetros a frente dela.
        Caminhávamos tranquilamente sobre as sombras que as belas copas das árvores formavam. Em toda nossa jornada, até mesmo antes da decisão de se tornar uma monotrainer, ela sempre preferiu andar em meio as árvores ao invés das estradas comuns.
        Olhei a nossa volta, me permitindo atentar aos sons produzidos pela floresta. Algo dizia-me que próximo de onde estávamos haveria um lugar perfeito para que nosso treinamento fosse focado em minha agilidade. Ansiosa para isto me coloquei a correr entre arbustos e trilhas. ― Lily! Ei, Lily! Me espere!
        Ouvia a voz dela me chamando, mas sabia que ela me seguiria. A confiança que uma possuíamos na outra me permitia poder levar ela a aventuras diversas, e certamente a lugares de beleza inquestionável. A adrenalina percorria as veias de meu corpo me incitando a correr cada vez mais rápido, e era exatamente isto que eu fazia.
        Saltei troncos e desviei de pedras grandes que surgiam em meu caminho vez ou outra. Torci silenciosamente para que Lia conseguisse desviar dos meus com tanta facilidade quanto eu. ― Zorua, zorua! ― Gritei o mais alto que pude a fim de chama-la e indicar o caminho pelo qual eu seguia em velocidade elevada.
        Me rendendo aos meus instintos continuei correndo pelo que pareceu pouco mais de dois minutos, olhei para trás por um instante apenas para confirmar que Itália me seguia fielmente. Sorri contente com aquilo, e então parei assim que deixei a floresta para me deparar com um lago lindo, formado por uma pequena cachoeira que deslizava fazendo barulho.
        Lia surgiu logo após, tão surpresa quanto eu estava ela parou respirando ofegante, ajoelhou me tomando nos braços e avançando em direção a margem. Ela estava impressionada com o lugar, e eu também.
        Espalhado por toda a extensão da água haviam rochas, que aparentemente possuíam superfícies lisas, mas não tão escorregadias quanto poderiam ser. Próximo a queda d’água haviam outras, que faziam seu caminho em direção ao alto, como se formasse uma escada.
        ― Isso é incrível, Lily! Este lugar vai ser perfeito para que treinemos um pouco, e claro, ambas matarmos o calor! ― Ela parou diante da água, nosso reflexo surgiu e nossa expressão de maravilhadas pode ser vista. Ela riu, e eu rocei meu pelo em seu braço enquanto minha calda balançava de um lado para o outro.
        Lia se sentou após ter retirado os sapatos e joga-los de lado, fui posta entre suas pernas enquanto ela retirava a mochila que pesava em suas costas. Lentamente ela deixou que seus pés imergissem, a água fria atingiu o corpo dela e a fez arrepiar. ― Podíamos descansar um pouco antes de treinar, o que acha? Eu amaria aproveitar essa água com essa temperatura perfeita!


        Lia repousava a cabeça na mesma pedra em que eu descansava. Havíamos passado longos minutos nos divertindo com a água, fomos desde uma guerra com a mesma até apenas relaxar observando o paraíso que eu havia descoberto. Repentinamente ela se levanta com um sorriso determinado em seus lábios, aquele que eu já estou tão acostumada.
        ― Chega de moleza, vamos treinar agora mesmo! ― Ela flexiona o braço fazendo uma força que aparentemente demonstraria força, salto ficando de pé, olho-a tão determinada quanto poderia estar, sorrio esperando ansiosa por suas coordenadas. ― Quero que comece saltando de uma pedra para outra sem o uso de nenhuma habilidade extra!
        Eu já esperava por aquilo, e até mesmo agradecia. Seria bom dar inicio a tudo apenas testando a minha velocidade e capacidade de equilíbrio. Inspirei e expirei profundamente enquanto girava em meu próprio eixo, tomei a posição tão costumeira para corridas flexionando bem as minhas pernas, avancei não mais do que cinco centímetros na rocha, tomei impulso e saltei para a próximo. Pousei com certa dificuldade, por pouco não deslizei.
        Precisava me concentrar, não correria o risco de decepcionar Itália, que me fitava esperançosa. Retomei minha posição, tomei impulso e saltei, talvez eu tenha usado força em excesso e calculado mal a área que eu possuía para parar, pois fui diretamente de encontra a água.
        Emergi movendo a cabeça de forma negativa me livrando das gotas que grudaram em meu rosto. Lia me olhava levemente decepcionada, mas isto não durou mais do que cinco segundos. ― Não se preocupe, Lily, vamos começar de novo. Suba nesta pedra e salte de uma para outra sem intervalos. Sei que consegue, apenas se concentre! ― Assenti confiante, não havia nada que me trazia mais confiança do que os incentivos que recebia após minhas falhas.
        Repassei as coordenadas enquanto voltava para o topo da pedra que eu me encontrava momentos atrás. Era apenas saltar de uma para outra sem intervalos, sem paradas. Flexionei minhas pernas e dei inicio aos movimentos, saltei em direção a primeira pedra, pousei de forma que por apenas um segundo não perdi o meu equilíbrio.
        Retomei ele tentando manter firmeza sobre a rocha, quando a consegui tratei de me mover, saltando novamente, desequilibrei-me uma outra vez e fui direto para a água. A frustração chocou-se contra mim de forma rápida e intensa, emergi buscando ar desesperada, quando me virei Itália já estava ao meu lado, pronta para me socorrer.
        Vislumbrei o par de olhos claros por longos segundos, silenciosamente ela tentava me encorajar a tentar novamente, apesar de toda decepção com minhas constantes falhas, eu sabia que era sim capaz de concluir as coordenadas. Lia pareceu perceber isto, pois me colocou sobre a rocha mais próxima a margem.
        Fechei meus olhos e tentei me concentrar, inspirando e expirando lentamente busquei em meu mais profundo ser o que eu precisava para fazer aquilo. Não demorou para que eu flexionasse minhas pernas e desse meu primeiro salto, o pouso foi perfeito, sem escorregadas ou deslizes. Apesar de estar orgulhosa de mim mesma não parei para comemorar, mantive meu foco em continuar, e fui o que fiz. Pulei em direção a próxima pedra, e a próxima. ― Isso mesmo, Lily! Agora use o agility para aumentar sua velocidade e escale as pedras que vão rumo ao topo!
        Aquela não seria uma tarefa fácil, eu tinha a mais plena certeza disto, mas confiava em mim mesma e na minha treinadora, que jamais faria qualquer coisa sequer para me ferir.
        Inspirei e expirei de forma profunda e intensa enquanto continuava com meus saltos de rocha para rocha. Ativei minha habilidade, minha velocidade cresceu de forma considerável, então puxando toda confiança que possuía em todo o meu ser dei meu primeiro pulo em direção a primeira das pedras que seguiam para o toco.
        Estas possuíam a superfície ainda mais lisa do que as outras, e aparentemente isto pioraria conforme eu fosse escalando. Era visível a camada de musgo que encobria as formações rochosas, e mesmo que eu tomasse cuidado, o risco de uma queda era imenso.
        Olhei para trás e vi Itália me olhando, as mãos unidas em frente aos lábios, ela torcia internamente para que eu conseguisse cumprir suas coordenadas. Flexionei minhas pernas e executei o primeiro salto. Senti todos os meus pelos eriçaram, as gotas geladas de água chocavam-se contra meu corpo quente me incentivando a prosseguir, e o fiz. Pousei deslizando levemente conseguindo parar a menos de um centímetro da beirada, ouvi o grito de minha dona e olhei para trás e assenti afirmando que estava bem.
        Novamente saltei calculando o melhor que eu pudesse para pousar sem maiores perigos. Estava indo bem, encontrava-me na terceira rocha, e apesar dos pequenos escorregões que sofri, não me feri.
        A velocidade ainda era crescente, e aos poucos eu ia conseguindo saltar de forma mais rápida. Em pouco tempo havia alcançado a quinta rocha, porém quando me aproximei da beirada e estava prestes a saltar para a próxima e ultima, senti a gravidade agindo junto com a superfície do musgo me levar para queda livre.
        Quis gritar, berrar, mas minha voz não saia, não surtia efeito algum. Esperei por segundos longos que meu corpo se chocasse contra as pedras e então que a morte me acolhesse. Porém, nada disto me ocorreu.
        A sensação do meu corpo repousando sobre uma superfície familiar me atingiu em cheio, abri meus olhos que nem ao menos eu percebi que havia fechado e me deparei com os olhos marejados de Lia, que soluçava baixo. Ela me abraçou forte, e eu retribui.
       

Itália encontrava-se diante de uma loja de doces, seus olhos deslizavam pela fachada bem desenhada da mesma. Em seu subconsciente ela cogitava adentrar o ambiente e deliciar-se junto a sua Zorua dos doces que ali encontravam-se disponíveis. Ela virou seu rosto na direção da monstrinha, os dentes prendiam o lábio inferior enquanto a indecisão fazia-se cada vez mais presente.
Lily olhou sua treinadora por alguns segundos, saltou de seu colo e determinada tratou de empurrar a porta e adentrar o belo estabelecimento. Dando-se por vencida, a jovem morena seguiu seu bichinho, seu olhos percorreram todo o ambiente atentando-se aos detalhes. O lugar era incrivelmente doce, a decoração trazia a qualquer um lembranças de sua infância.
A pequena raposinha negra já encontrava-se sentada a uma das mesa, Lia balançou a cabeça de forma negativa suspirando, apesar de ter relutado a entrar ali, agora não conseguia se negar a sorrir, admirada com toda a beleza do ambiente. ― Lily, você não pode ir entrando assim nos lugares. Sabe que não gosto de ficar dentro de lojas, ou próxima a muitas pessoas.
Enquanto se pronunciava a menina se sentada diante da pokémon, seus olhos deslizaram até que repousaram sobre a mesa rosada, os dedos brincaram sobre a madeira, batendo na mesma vez ou outra. Mesmo que não assumisse frequentemente, Lia sentia-se intimidada quando era obrigada a estar entre tanta gente, por isso preferia seguir trilhas pela floresta, e se aproximar da cidade apenas quando fosse realmente necessário.
Navegando perdida em seus pensamentos ela não foi capaz de perceber quando uma garota trajando um vestido branco com detalhes de tons diferentes de rosa, se aproximara trazendo consigo um pequeno caderno. ― O que vão querer? ― Hoods sobressaltou-se, olhou a jovem engolindo em seco, e logo após se forçou a sorrir.
Rapidamente ela se permitiu apanhar o cardápio, folheou ele buscando algo que lhe interessasse o suficiente a ponto dela escolher para provar. A variedade de doces e bebidas oferecidas no estabelecimento era assustadora, e felizmente, eles também possuíam doces específicos para pokémon. ― Hum… Pode me trazer uma vitamina de cereja e um pedaço de torta e chocolate, e para a Zorua… ― A atendente não esperou que a morena completasse o pedido, talvez ela soubesse algo que agradaria em cheio Lily.
Itália desabou, a cabeça chocou-se contra o antebraço e seus olhos fecharam-se. Ela voltou a se perder em seus pensamentos e lembranças. Aquela loja em especial a recordava sua mãe, uma mulher doce e carinhosa que dedicava sua vida a adoçar a vida das pessoas e pokémon, fazendo doces dos mais diversos, especificando-se mais tarde em deliciosos macarons.
Um suspiro profundo escapou pelos lábios da monotrainer, que sentou-se de forma correta no banco, logo após deslizando os dedos pelos fios negros de seu cabelo. Lily subiu na mesa e aproximou-se de sua dona, o focinho dela deslizou pelo dorso da mão direita em um carinho silencioso. ― Zorua… ― A jovem fechou os olhos enquanto inspirava e expirava da forma mais intensa que poderia fazer. ― Esta tudo bem, não se preocupe.
Ela havia forçado um sorriso, e sua monstrinha sabia disso. Mas insistência com Itália não trazia bons resultados, pelo contrario, a irritada a ponto de faze-la se isolar ainda mais do mundo. A raposinha deitou-se entre os braços da garota, olhou-a da forma mais terna que pode em um pedido silencioso por carinho.
Deixando que uma pequena risadinha escapasse de seus lábios, a mão abaixou lentamente e seus dedos envolveram-se na pelagem da raposinha, dando inicio ao tanto desejado carinho, que durou até que os pedidos chegassem a mesa e que ambas os atacassem.


Itália relaxava na sombra de uma grande arvore que localizava-se a esquerda da estrada que seguia para a cidade de Cherrygrove, onde pretendia aventurar-se a passar alguns dias longe das florestas.
Zorua por sua vez adormecia no colo de sua dona, tendo entre as patas metade de um poké puff que devorava com prazer pouco antes de cair no sono. Um pouco a frente da mesma estava a cesta de tom claro contendo diversos outros doces, que a monotrainer fizera questão de trazer consigo. O silencio reinava, e a temperatura suave era ideal para que ambas continuassem a descansar antes de retomar seus caminhos.
Porém, entre os galhos da grande árvore alguém as observava em silencio. Uma pequena risadinha ecoou, fora o suficiente para fazer a raposinha se remexer, mas não para acorda-la. O pequeno ser saltou de onde estava, pousando perfeitamente ao lado da garota morena. Os olhos do pokémon foram de encontro a cestinha com doces, e o sorriso que já havia em seus lábios apenas cresceu.
Sem hesitação alguma ele apanhou o recipiente, desta vez quando deixou sua risada escapar e espalhar-se pelo ambiente, conseguira despertar Zorua, que sobresaltada avançou na direção do pokémon. Itália acordou atordoada, olhou a sua volta até perceber que tinha a sua frente um pequeno ladrãozinho, tateou sua roupa e puxou sua pokédex, a fim de descobrir de qual ser se tratava.

pokédex escreveu:
Purrloin, o Pokémon Desonesto.
Eles fazem-se de fofos, mas é apenas um estratagema. Quando as suas vítimas baixam a guarda, mais tarde reparam que os seus posses foram roubados. Eles roubam das pessoas por puro divertimento, mas as suas vítimas não conseguem não os perdoar. O seu teatro enganoso de fofura é perfeito. Os Purrloins atacam com garras afiadas.

Lia levantou-se, os lábios curvaram-se instantaneamente, a pequena raposa recuou até estar lado a lado com sua treinadora. ― Lily, uso o Agility correndo em ziguezague e combine com o Trackle! ― Zorua não pensou duas vezes antes de executar o movimento, obedecendo as coordenadas começou a avançar pela direita, mudando logo para a esquerda e repetindo até que estivesse próxima o suficiente do Purrloin para acertar ele com o Trackle. Porém, no ultimo segundo o ladrãozinho saltou, fazendo com que a raposa deslizasse pela grama.
A morena rangeu os dentes, não estava irritada apenas pelo fato do gatuno ter desviado tão bem do ataque de sua monstrinha, mas também pela ousadia dele ao tentar furtar seus doces. ― Rápido, salte e uso o Leer e depois use o Fury Swipes! ― O desejo de vencer era constante no peito de Itália, que lutava com seu subconsciente buscando combos que pudessem lhe ser uteis.
Antes que Zorua pudesse sequer começar a executar as ordens recebidas, o pokémon antecipou-se, olhando de forma terna para o outro ele escondeu a cestinha em suas costas, começando a ronronar lentamente. Itália inspirou profundamente, e ali teve a certeza de que aquele era um macho, pois o uso e eficacia do Captivate era visível. Quando a raposa de pelagem negra já encontrava-se distraída o suficiente, o monstrinho deu inicio ao seu segundo movimento.
Primeiro as garras estavam criando brilho da exata forma que as de Lily atingiam durante determinados ataques, em seguida ele tomou posição e avançou em direção a monstrinha da monotrainer, que não sabia o que fazer naquela altura dos acontecimentos. ― Lily, salte para esquivar do ataque! ― Apesar de ter gritado o mais alto que pode, Lia não fora ouvida, seu pokémon seria atingido.
A morena fechara os olhos e apenas ouvira o momento em que sua monstrinha fora atingida pelas garras, gemendo baixo. Purrloin havia usado slash um dos movimentos que segundo a pokédex, seriam seu forte.
Itália engoliu em seco, fechou os olhos puxando uma forte respiração. Aquilo não ficaria assim, e ela faria a partir de agora o possível e o impossível para vencer. ― Faça duas sequencias de Fury Swipes, depois use o Trackle e finalize com o Faint Attack! ― A pequena raposa saltou, suas garras surgiram e brilharam tão intensamente quanto as do gatuno. A raiva que sua treinadora estava sentindo talvez pudesse refletir na sua, dando mais determinação a mesma.
Pousando diante do pokémon, que surpreendera-se com a presença do outro, Zorua desferiu as duas sequencias de ataques, que consistiam em quatro golpes cada uma. Logo após saltou novamente, pousando a pouco mais de meio metro do oponente. Observou o mesmo atordoado com a dor que os ataques haviam causado, e então disparou em sua direção. A cabeça curvada levemente era característica fixa do segundo movimento, que atingira em cheio as costas do Purrloin.
Este fora jogado para frente, caindo de joelhos por fim. Lia observava tudo atentamente, por um segundo pensou em pedir para que sua monstrinha cessasse os ataques, mas se o fizesse não derrotaria de vez seu oponente. Com a culpa batendo forte em seu peito ela balançou a cabeça de forma negativa, Lily avistando tal movimento cessou, sentando-se a uma distancia segura do outro.
Fora um erro, e agora ela pagaria por isto. Itália esquecera-se dos dizeres da pokédex ”eles fazem-se de fofos”. Era o mais puro e cruel teatro. Quando treinadora e pokémon menos esperavam, fora atingidos. O gatuno deu inicio usando Growl que intimidava seu oponente, baixando consideravelmente sua guarda, o rosnado ecoou e seu efeito fora imediato.
Zorua encolheu-se assustado. A monotrainer inspirou profundamente uma outra vez, não iria perder. Enquanto o monstrinho tinha suas garras começando a adquirir o brilho do ataque Slash, a garota avançou em direção a sua pokémon. Entrou na frente da mesma e fitou o oponente.
― Ele não vai recuar, então quando ele estiver próximo, salte por cima de mim e acabe com ele usando o Faint Attack. ― Itália sabia que ao tentar proteger seu pokémon ela sentiria-se mais confiante, e consequentemente poderia possivelmente quebrar parcialmente o efeito do Growl. Purrloin não recuou, pelo contrario, tornou-se mais determinado a ferir a pequena Zorua.
Itália manteve-se firme, fechou os olhos e os apertou apreensiva. No ultimo segundo sentiu o ar mover-se sobre seu corpo, jogou-se ao chão e viu Lily pousar no chão. Em seguida ela piscou para o gatuno, que estacou olhando-a. Ela sorriu e avançou na direção do oponente, acertando-o em cheio no estomago. O gatuno caiu exausto.
A monotrainer sorriu e apanhou uma das pokébolas vazias, lançou-a contra o pokémon. Um raio vermelho o atingiu assim que a esfera se abrira, e o sugou. A luz no centro ficou a piscar, e a jovem torceu para que tivesse realmente vencido.

Informações do Pokémon:

        O céu estava imerso na escuridão, nuvens acinzentadas repletas de gotas de chuva espalhavam-se pelo mesmo. O chão da floresta que antes poderia ser descrito como seco, terroso e repleto de folhas secas, agora era caracterizado pela lama que formava-se, tornando-o escorregadio e perigoso.
        A chuva engrossando aos poucos passava a ferir as partes nua do corpo da garota de longos cabelos negros, que corria sob aquele pé d’água. Ela esforçava-se ao máximo, mas o peso da água em seu corpo a atrasava de forma considerável.
        Lily e Thanatos encontravam-se presos na pokéball, a jovem fizera isto para protege-los da tempestade. Um raio cruzou o céu, assustando a garota, que desatenta chocou seu pé contra uma pequena rocha. Um gemido longo escapou de seus lábios quando seu corpo se chocou com o chão, sujando toda a roupa com a lama.
        As pequenas esferas de duas cores rolaram adquirindo o tom terroso. Itália levantou-se apressada assim que sua pequena raposa negra surgiu do raio avermelhado. A garota apanhou o mesmo e recolheu a outra pequena bola. ― Droga!
        Ela praguejou baixo quando um segundo raio seguido de um trovão surgiu no céu. Atordoada ela olhou para todos os lados em busca de um abrigo bom o suficiente para evitar que ficassem doentes.
        Apertando Zorua em um abraço e curvando seu tronco levemente, Lia inspirou profundamente fechando os olhos. A chuva ficava cada vez mais forte, e ela tornou a correr sem rumo correto, embrenhando-se cada vez mais na floresta.
        De todas as desvantagens de se escolher seguir jornadas pela mata, pegar uma tempestade que parecia nunca querer desaparecer era a pior. Um relâmpago surgiu, trouxe luz por alguns segundos e enfim espantando as sombras que assustavam a monotrainer. Como uma luz no fim do túnel, a recente descarga elétrica revelou uma estrutura ao longe.
        Alegre por ter avistado sua possível salvação, Hoods avançou o mais rápido que pode em direção a grande construção. Quanto mais se aproximava mais pode ver ela. Quando estava a pouco mais de três metros de distancia da entrada, a garota escorregou. Suas costas chocaram-se com força contra o chão a fazendo gritar e largar sua monstrinha e a pokéball.
        Thanatos deixou a esfera após o raio vermelho surgir. Ambos pokémon avançaram em direção a sua dona, Zorua esfregou o foucinho na bochecha dele, enquanto Purrloin lambia a mão dela. Desajeitada Itália sentou-se, deslizou os dedos por seu cabelo livrando algumas mexas da lama. A garota engoliu em seco e novamente ergueu-se. Levemente tonta caminhou até a porta e a empurrou.
        Ambos pokémon seguiram sua treinadora. A mansão estava escura, e possuía uma aparência extremamente sombria, que causara arrepios em todo o corpo da treinadora. Ela escorou-se na parede e deixou seu corpo escorregar até que ela se sentasse.
        Logo a frente encontrava-se duas enormes escadas, entre elas uma porta escura fazia-se presente. Lia fechou os olhos e soltou um suspiro longo e profundo. ― Vamos ficar aqui até que a chuva passe, e então seguiremos para a cidade. Não estamos tão longe. ― Ela sussurrou enquanto tirava a bolsa de suas costas, abrindo-a logo tratou de procurar por uma das lanternas que carregava consigo.
        Ao acende-la a garota deslizou o feixe de luz pelo local. A casa estava velha, e em muitos pontos possuíam buracos por onde a chuva conseguia adentrar. A poeira criava camada sobre todas as superfícies, e a cada passo que a monotrainer dava, mais pó levantava-se, tornando seus sapatos ainda mais imundos.
        Lily cravou os dentes no tênis e tentou fazer com que sua dona recuasse. ― Lily, calma. Eu tenho vocês dois para me proteger! ― Enquanto se pronunciava ela abaixou, ajoelhando-se diante da raposa e do gatuno. Seus dedos deslizaram pela pelagem de ambos, e eles sorriram. Destemido, Thanatos tomou a frente, começando a subir a escada. Itália o seguiu com a pequena Zorua em seu encalço.
        O segundo andar da mansão era ainda mais sombrio, corredores longos e sem iluminação faziam-se presentes de ambos os lados. A diferença é que ao lado esquerdo, ele tinha fim em uma enorme porta de mogno, quando o feixe de luz passou pela mesma, revelou entalhes de ramos de flores, que espalhavam-se até sua base.
        Itália iniciou uma caminhada lenta em direção a grande estrutura de madeira, mas estacou quando ouviu Purrloin seguir para o lado oposto. ― Thanatos! Onde você esta indo? ― Ela gritou para o gato de coloração roxa, que apenas realizou um leve movimento com a pata, chamando a monotrainer.
        Dando-se por vencida ela o seguiu, quando estava prestes a fazer a curva do corredor deparou-se com um vulto e coloração clara que produzira um som peculiar. Ambos pokémons avançaram, dispostos a correr atrás do que quer que estivesse perambulando pela casa abandonada. ― Esperem! Não vamos atrás, isso poderia nos meter em encrenca.
        Após suspirar de forma profunda ela se permitiu sentar no chão empoeirado. Tanto Thanatos quando Lily aproximaram-se, fitando curiosos sua treinadora. ― Ele deve ser um dos tantos moradores que essa casa recolheu. Assim como nós, ele pode estar procurando abrigo. Não vamos incomoda-lo, sim? ― Um sorriso doce curvara os lábios da morena, que levou ambas as mãos na direção dos pelos dos monstrinhos, que deitaram-se apreciando o toque.
        A garota pegou ambos os pokémon nos braços, mantendo a lanterna entre os dedos ela iniciou sua caminhada. Avistando uma porta lisa de coloração escura, a jovem tocou a maçaneta com a ponta dos dedos, a estrutura fora empurrada e Itália adentrou o recinto.
        Respirando fundo ela deixou que o feixe de luz deslizasse pelo comodo da mansão. Neste havia uma cama grande, forrada com lençóis amarelados - que antes provavelmente era branco - e travesseiros forrados por fronhas com detalhes florais. Lia sorriu, caminhou até a mesma e se sentou, repousando seus pokémon sobre a cama.
        Permitindo que o sono viesse a tona, a menina retirou seu par de sapatos e os deixou jogados sobre o belíssimo tapete felpudo, que ela ainda não havia percebido, e se deitou no cholchão, bocejando de forma longa.


OBS: Esta parte é narrada pelo pokémon Purrloin.


        Fui conquistado. Após longos tempos vagando pelas cidades e matas furtando dos outros para que eu pudesse me alimentar e me cuidar, fui vencido por uma garota com sua raposa negra. Quem diria, eu, um gatuno desonesto, preso em uma pokéball.
        Apesar dela ter me colocado na cama ao seu lado, e esperado que eu adormecesse, não fui capaz. Essa casa apesar de aparentar ser bastante vazia, possui algo que me incomoda a ponto de me manter acordado para proteger ambas. Me sento em um canto em meio a sombras, um ponto onde meu campo de visão é amplo e me permite manter a vigilância fixa e forte.
        Enquanto me permito velar o sono delas, recordo-me da batalha que me derrotara e me tornara parte de uma pequena equipe, que estava se formando agora. Zorua, apesar de ter um tamanho pequeno, possuía um poder que sua treinadora desenvolvia bem.
        Fechei meus olhos por alguns segundos, a cena em que a garota tomou a frente da pequena raposa fora surpreendente. Boatos de treinadores que davam sua vida para proteger a de seus monstrinhos eram raros, mas ocorriam. Presenciar tudo aquilo me deixara surpreso, mas me motivara a tentar ao menos vencer. Mas fora o contrario, perdi, porém ganhei alguém que cuidaria de mim.
        Ronronei baixo abrindo os olhos, e me deparei com um vulto sentado ao lado de Itália. Meu instinto protetor surgiu de forma avassaladora, rosnei baixo e me aproximei de forma sorrateira, meu olhar estava fixo naquela pequena forma, e assim que pude saltei. Atingi ele em cheio, o derrubei da cama e caímos rolando.
        Gemi baixo e tentei retornar a minha posição original. O fiz com leve dificuldade, a tempo de ver o ser afastando-se do dormitório. Não demorei a rumar em direção a porta, atravessei a mesma e o vi virando a esquerda. Olhei para minha treinadora, que adormecia calma sem se dar conta do que acontecia a sua volta. Lily se movimentou levemente, mas não despertou.
        Avancei em direção ao corredor, mantendo-me atento a todos os sons produzidos pela casa, seus moradores e a tempestade que parecia apenas piorar. Virando na mesma direção que o vulto havia ido, me deparei com a escada, e com um brilho diminuindo aos poucos. Sorrateiro fiz meu caminho, seguindo a luz misteriosa que me instigava, desci o conjunto de degraus até alcançar o primeiro andar da mansão, que aquela altura tinha seu chão coberto por água.
        O ser mantinha-se parado em frente a uma porta dupla, que parecia levar a cozinha. Ele parecia não ter me notado, não até que eu comecei a caminhar da forma mais cautelosa que pude, e ao pisar em falso, uma das madeiras gemeram, trazendo sua atenção a mim.
        Sentei-me sobre a água quando ele se virou para me fitar, mantive meu olhar firme, não demonstraria minha apreensão em momento algum. Porém não pareceu ser o mais prudente, quando menos esperei fui atingido por um golpe na barriga. O ardor surgiu de forma impressionante, e logo após fui atingido novamente, duas vezes seguidas que me fizeram lamentar o momento em que deixei o conforto dos braços da minha treinadora.
        Ouvi o som de passos apressados sobre a água, fechei os olhos e me preparei para mais um golpe. Esperei, esperei e esperei, mas ele não veio. Senti o toque doce tocando meu pelo, e braços a me elevarem. Senti também pingos suaves, que por um segundo acreditei serem gotas da chuva, mas não eram. Elevei minhas pálpebras e a vi.
        O rosto assustado, os lábios entreabertos e lagrimas a escorrerem por sua face suave. Ela tremia, e temia mais pela minha vida do que eu mesmo. ― Than… O que aconteceu? ― Ela fungou, e a culpa me tomou. Decidi que iria recompensar ela, e provar a mim mesmo que eu era digno de lhe pertencer.
        Inspirei profundamente e deixei seu abraço frouxo, me coloquei alguns centímetros a frente dela pronto para receber suas coordenadas sempre tão bem dadas. O meu oponente deixou as sombras quando um relâmpago trouxe luz e iluminou sua face. Ainda que chorando Itália puxou sua pokédex.

pokédex escreveu:
      Poochyena, o pokémon mordida.
Poochyena é a forma pré evoluída do Mightyena. Sua mordida é mais forte do que de qualquer pokémon e tem resistência para perseguir oponentes até seu completo exaustão.

        Limpando suas lagrimas ela levantou-se, me olhou por alguns segundos e parecendo se render, deixou sua expressão temerosa se transformar em pura determinação para vencer. ― Use o Slash e logo depois o Tackle! ― Assenti e me permitir deixar a coragem se tornar crescente em meu interior. Assim que estive satisfeito comecei a correr em direção ao meu oponente. Passos rápidos, e assim como vira Lily fazer, iniciei um ziguezague em minha corrida.
        Parei em frente ao peludo animal com minhas garras brilhando de forma bela, desferi o golpe ouvindo os gemidos romperem seus lábios quando ele recuou. Fiz o mesmo para tomar distancia e aumentar a intensidade do meu segundo golpe. Curvei meu tronco e avancei, centímetros antes de atingi-lo o vi desviar. Rosnei baixo e parei. Ele me fitava com ódio.
        Lia abriu os lábios pronta para novas coordenadas, mas antes que pudesse faze-lo eu fui golpeado. Uma mordida atingiu meu braço, Poochyena havia acabado de usar Bite para me ferir. ― Intimide ele usando o Growl e depois faça duas sequencias de Fury Swipes. ― Abri meus lábios pronto para rosnar alto o suficiente para faze-lo recuar, mas fui jogado para trás quando meu oponente fez uso do Tackle.
        Gemi baixo com a dor que me atingiu, meus olhos fecharam-se e eu cai de joelhos. O que estava acontecendo? Eu iria perder, era isso mesmo? Não poderia, era a primeira vez que Hoods usava-me em uma batalha e eu começaria com uma derrota. Que vergonha eu seria como um pokémon se me deixasse perder.
        Inspirei o mais profundo que pude. Mesmo com as tremedeiras em meu corpo me obriguei a ficar de pé. Rangi meus dentes quando vi o medo tomando conta das íris da monotrainer, enquanto a observava perdi toda minha atenção na batalha, e uma outra vez fui atingido, outro Tackle. Fui lançado para trás e meu corpo chocou-se contra a parede. Ouvi nesse momento o grito rouco de horror de Itália, e logo após ela cair de joelhos.
        ― Thanatos, levante-se, por favor! Não pode entregar assim a batalha! Você pode vencer, eu sei que pode! ― Eu podia. Eu realmente podia e era capaz. Tremendo, me coloquei de pé. O rosto dela se iluminou, e aquilo me deu forças para continuar. Levando em consideração minhas ultimas coordenadas recebidas, abri a boca e rosnei alto. Me surpreendi com a força do rosnado que partiu dos meus lábios, mas ele fora eficaz.
        Poochyena recuou, os pelos de seu corpo eriçados mostrava que ele estava assustado, e tentava me intimidar. Sorri, minhas garras brilharam, corri e saltei. Indo de encontro ao chão poucos segundos depois, desferi o primeiro arranhão diretamente na face dele, o segundo direcionei ao seu focinho, o terceiro em seus olhos. Ele caiu gemendo, mas ainda faltavam três para completar as duas sequencias desejadas por Itália. E o cumpri, o trio todo desferido contra o abdômen dele.
        ― Use agora o Slash e termine com um Tackle! ― Ele se levantava tremendo, estava fraco e prestes a ter forças o suficiente para rebater cada um dos meus ataques desferidos, mas não permiti. Minhas garras tornaram a brilhar, andei até ele exibindo todo o meu charme, não como uma arma, mas eu queria finalizar aquilo com beleza.
        Olhei minhas garras por alguns segundos quando parei diante do ser peludo, no ultimo instante desferi o golpe cortando-lhe o abdômen. Saltei para trás, ganhando distancia e consecutivamente força para o meu Tackle. E assim o fiz, avancei e minha cabeça chocou-se contra o pokémon, o lançando para longe. Ele caiu, e não tentou se levantar.
        Lia veio em minha direção e apanhou uma pokéball que julguei eu estar vazia. Ela lançou a mesma contra o derrotado Poochyena e um raio rubro saiu da mesma, atingindo o outro e o recolhendo. O centro iluminou-se, ela se sentou ao meu lado me tomando em seus braços, e ali eu percebi que ela não nos permitia levar nenhum oponente ao exaustão total. Nos controlava para que apenas o cansássemos para que ela o recolhesse.

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